ISEG

É difícil avaliar a faculdade onde tirei o meu curso e onde tantas experiências tive. Quando ingressei no primeiro ano, os pavilhões novos, 2 grandes blocos rectangulares de cimento, estavam a ser construídos ainda. Assim, tive o privilégio de ter aulas nas salas RS — Ribeiro Santos — e de ter conhecido a biblioteca antiga. As salas RS tinham tanto de carisma como de frio e calor: telhados de zinco, paredes de contraplacado. Estavam situadas num largo à saída do Edifício Quelhas, com o seu claustro e salas austeras — as salas Q’s. Nesse edifício ficava também o Bar do Gordo, senhor avantajado quer servia sopas e refeições rápidas bem como os melhores croquetes que já provei. A biblioteca… era magnífica, pelo menos aos meus olhos. O sistema de arquivo era arcaico, os computadores funcionavam mal, mas tinha um varandim que percorria todo o espaço, quadros e pinturas, escrivaninhas onde nos podiamos sentar com todo o desconforto mas com muita história e a sensação de estarmos num palácio. Esta biblioteca foi abaixo durante a minha licenciatura e a nova biblioteca passou a ser um edifício de 5 pisos, moderna, com um sistema fácil de catálogo mas onde não dava tanta vontade de passar o tempo. Muitos trabalhos de grupo e reprimendas levei nesta biblioteca: os bons momentos foram incontáveis, as gargalhadas sobrepunham-​se aos avisos de silêncio e o guarda muitas vezes nos expulsou por sermos muito barulhentos. Por baixo dos recém criados pavilhões novos havia o parque de estacionamento exclusivo dos professores e alunos de mestrado — uma injustiça! — uma reprografia e um bar, o Besouro, ex libris desta faculdade. Não havia janelas nem ventilação, era minúsculo, tinha um cubículo onde se punha música, fumava-​se, jogava-​se às cartas, combinava-​se a saída dessa noite. Era o centro da faculdade. Com o tempo este bar desapareceu, substituído pelo não oficial «casino» onde as gerações mais novas jogavam matraquilhos, namoravam, tentavam estudar, jogavam cartas também. Era um espaço mais luminoso, arejado, menos carismático, portanto. Falta falar da cantina. Havia uma, antiga, ao cimo de uma escadaria horrível, onde se serviu cabeça de coelho com pêlo — última vez que lá fui. Ao lado havia a associação de estudantes e no largo comum de entradas das duas havia sempre animação. Foi substituída por uma grande cantina com comida macrobiotica inclusivé, mas onde a qualidade continuava algo duvidosa. Quanto à universidade enquanto estabelecimento de ensino… perfeita. Senti-​me desafiada, preparada, acompanhada, cresci, aprendi, sofri, realizei, apoiei, chorei, ri… Foi das melhores experiências que tive na vida. Professores e colegas excepcionais.

Mais do que uma escola de Economia, Gestão e Finanças de referência, o ISEG é um projecto cultural aberto não só à comunidade académica, mas a todos os potenciais interessados. O edifício Quelhas, onde actualmente se encontram os serviços administrativos, auditórios e decorrem as aulas de pós-​graduação, é um espaço cheio de história. Isto porque se encontra instalado no lugar onde no século XVIII foi erguido o Convento das Inglesinhas. O edifício foi restaurado e modernizado em 2005 pelo Arq.º Gonçalo Byrne, mas manteve elementos da traça antiga, nomeadamente os claustros, os azulejos e as escadarias em pedra. Apesar de passar ali todos os dias não me canso, nem consigo deixar de contemplar a beleza deste espaço.
A agenda cultural do ISEG é sem dúvida um dos pontos fortes desta instituição e a principal razão para escrever sobre a mesma. Nos últimos anos têm sido desenvolvidas parcerias em diversas áreas desde a música, ao cinema, teatro, artes e a literatura. Na música merecem ser destacados os concertos de clássica e jazz, organizados em colaboração com a Antena 2 e o Hot Clube respectivamente. Além disso, todas as terças-​feiras entre as 13.30 e as 14, alunos, docentes e funcionários são convidados para uma «Sobremesa musical», que consiste numa audição comentada de excertos de concertos, óperas ou sinfonias de compositores clássicos como Bach, Brahms, Chopin e Tchaikovsky, entre muitos outros. É sem dúvida uma boa forma para recuperar energias antes de voltar ao trabalho. Há ainda exposições de fotografia, pintura ou outras composições ao longo dos claustros do Quelhas. A programação pode ser consultada no site do ISEG.
Finalmente, não posso deixar de distinguir esta instituição como um importante espaço de debate sobre os mais diversos temas que marcam a actualidade política, económica e social, imperando a liberdade de expressão e a diversidade de pensamento.